Custódio de Mesquita Pinheiro (Rio de Janeiro, 25 de abril de 1910 — Rio de Janeiro, 13 de março de 1945) foi um compositor, pianista e maestro brasileiro.
Morreu aos 34 anos de idade
SINOPSE BIBLIOGRÁFICA
Filho do comerciante Raul Cândido Pinheiro e de Camila de Mesquita Bastos Pinheiro. Custódio tinha dois irmãos, Albino e Camila.
Seu pai morreu cedo, em 1914, aos 35 anos, quando Custódio tinha apenas 4 anos de idade. De família rica, ainda criança, começou a ter aulas de piano com sua mãe, pianista clássica. Por ser indisciplinado nos estudos curriculares, sua mãe colocou-o no corpo de escoteiros do Fluminense Futebol Clube, onde aprendeu a tocar tambor, o que despertou mais tarde sua paixão também pela bateria, instrumento que dominaria com mestria. De fato, os estudos não atraíam muito o futuro compositor. Certa vez, Custódio foi flagrado por sua mãe cabulando aula, tocando bateria num conjunto que se apresentava no Cinema Central. Levou uma surra ao chegar em casa, mas de nada adiantou. Sem o apoio da família, desistiu de estudar, causando profunda tristeza em sua mãe e em seu irmão Albino, que era contra a opção de Custódio, que escolhia a música como profissão.
Apesar de tudo, dotado de extremo talento, Custódio insistia em tocar de ouvido, desprezando sempre as partituras. Ao que parece, só foi obter o diploma de regente diante da recusa de um músico que alegou não tocar em orquestra dirigida por um pianista que tocava "de ouvido".
Fez a primeira de suas 111 composições aos vinte anos (1930), o samba-canção O amor é um prejuízo em parceria com Moisés Friedman, mas só viu seu trabalho em disco em 1932, na voz de Sílvio Caldas, que gravou Dormindo na rua e Tenho um segredo, dois foxtrotes, gênero predominante na obra de Custódio.
Entretanto, seu primeiro grande sucesso foi a marchinha Se a lua contasse (1933), gravada por Aurora Miranda. Tanto o compositor quanto a cantora despontaram graças a essa música. O prestígio chegou rápido e Custódio tornou-se conhecido em todo o Brasil e até no exterior. Em 1936 realizou uma temporada na Argentina, como pianista, e fez muito sucesso com Se a lua contasse.
Foi um pianista de respeito. No início da década de trinta, já tocava na Rádio Clube do Brasil, Rádio Mayrink Veiga , Rádio Philips e também tocava numa escola de danças. Gostava muito de executar as peças de Ernesto Nazareth, e o fazia com mestria, a ponto de gravar com sua orquestra vários de seus choros e valsas. Fez também muitas gravações acompanhando ao piano vários artistas da época.
Em 1933 Custódio passou a fazer parte da SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, como sócio-administrativo, ocupando depois o cargo de subsecretário da entidade, além de dirigir o departamento de compositores. Custódio também foi diretor artístico da RCA Victor.
Ingressou no meio teatral como compositor através de seu parceiro e amigo Mário Lago. Escreveu e musicou cerca de trinta peças, sozinho ou com o parceiro, além de ter atuado como ator em várias companhias. Entre elas: Sambista da Cinelândia, Rumo ao Catete, Mamãe eu quero, Entra na bicha, Se a lua contasse, Fim de mundo, Tico-tico no fubá, Figa de Guiné, Grã-finos do morro, Pó de Mico, As armas, Filhas de Eva e Gandaia.
Uma curiosidade contada por Mário Lago é que ele e Custódio sempre reservavam um camarote nas peças por eles musicadas a uma fã do teatro, Dna. Balbina, mãe de Orlando Silva, pois sabiam que ela sempre levava o filho consigo e o cantor acabava por escolher algum tema novo para gravar.
Trabalhou como ator no cinema, estreando em Alô, alô, Brasil (1935) de Wallace Downey, em Bombonzinho (1938) de Mesquitinha e foi ainda o galã no filme Moleque Tião (1943) de José Carlos Burle, contracenando com Grande Othelo. Neste último fez também a trilha sonora. No teatro, fez o papel de Dom Pedro I na peça "Carlota Joaquina". Na época, a crítica foi muito favorável quanto à sua atuação, tanto no cinema quanto no teatro.
Escreveu com Sady Cabral, um de seus parceiros mais constantes, a opereta A Bandeirante que foi apresentada em outubro de 1938 no teatro São Pedro de Porto Alegre, RS.
Alto, com cerca de um metro e oitenta, Custódio chamava atenção por causa de sua beleza. Introvertido, era às vezes considerado esquisito e mesmo seus melhores amigos afirmam nunca tê-lo conhecido profundamente. Devido à sua vaidade exagerada, algumas pessoas o consideravam arrogante e até presunçoso. Certa vez Orestes Barbosa fez um comentário, ao ver a dupla Custódio-Mário Lago: "Ali vai o Narciso com o seu lago..."
Levava uma vida desregrada, alimentava-se mal, e nunca chegava em casa antes das 6 da manhã. Arrumava sempre uma desculpa para segurar seus amigos até o raiar do sol, pois dizia não suportar a solidão. Depois de sua morte, soube-se que ele era epiléptico, mas não deixava ninguém saber, porque temia que as pessoas pensassem que era contagiante e assim se afastassem dele. Tomava uma pílula misteriosa, provavelmente de Luminal, para evitar crises de epilepsia, o que acabou gerando o boato de que usava drogas.
Ao contrário da grande maioria dos artistas da época, Custódio não freqüentava os pontos de encontro dos compositores, como a Lapa, a Praça Tiradentes e o Café Papagaio. No Café Nice foi visto poucas vezes. Preferia visitar amigos, cabarés e dancings.
Tornou-se, com o passar do tempo, uma figura misteriosa, rodeada de lendas. Assim como Noel Rosa, seu colega de profissão e de noitadas, o pianista era amante dos passeios noturnos, convivendo com os mais diversos habitantes da madrugada, desde mendigos na rua, até intelectuais nos lugares mais chiques da cidade. Numa dessas noites, Custódio foi abordado por um mendigo e sua família que passavam frio e fome na rua. Sensibilizado, deu ao homem seu relógio de ouro e brilhantes, com corrente e tudo. Advertido por Mário Lago de que o homem poderia ser preso ao tentar vender o relógio, Custódio telefonou para todas as delegacias do Centro e avisou que, no caso de encontrarem um mendigo tentando vender um relógio de ouro, nada fizessem contra o pobre homem, porque ele não era ladrão.
Já num momento de extrema arrogância, ficou profundamente irritado ao ser barrado pelo porteiro que não o conhecia numa peça de teatro na qual tinha composto a trilha sonora. Quando o funcionário pediu que mostrasse os documentos, Custódio, sem pensar duas vezes, respondeu-lhe que quem usa documento é malandro. "Cavalheiros usam cartão de visita". Depositou seu cartão na mão do homem e entrou sem esperar resposta.
Mário Lago, um de seus principais parceiros, narra em seu livro Na rolança do tempo como foi seu primeiro encontro com Custódio: "Nos primeiros momentos em que me apresentaram ao Custódio Mesquita a impressão não foi das mais agradáveis. Aconteceu no bar Nacional, na Galeria Cruzeiro. (...) De repente, o secretário de Francisco Alves aproximou-se da mesa. O cantor, já célebre nessa época, mandava pedir ao Custódio que desse um pulo até sua casa para mostrar as novidades acabadas de sair do forno. Estava preparando um disco e gostaria de incluir alguma coisa do autor de ‘Se a lua contasse’...
- O Chico sabe muito bem onde eu moro. Se está querendo músicas, é só me procurar na Ipiranga, 32. A distância é a mesma, diga isso para ele.
O pobrezinho do secretário do Francisco Alves saiu que dava pena, quase ao ponto de pedir desculpas por haver nascido, enquanto o Custódio comentava, mal contendo a irritação: -Viu só, seu Mário Azevedo, como essa gente está ficando abusada? Era só o que faltava, eu... eu sair de minha casa pra ir mostrar música a um cantor. Eu sou o Custódio Mesquita, pomba!"1 A popularidade de Custódio crescia dia a dia. Considerado um compositor de extremo talento, fazia qualquer letra brilhar. Trabalhava excessivamente e sofria as conseqüências de uma tuberculose malcuidada contraída em 1936. Sem se intimidar com a doença, Custódio persistia em suas noitadas com os amigos até o amanhecer, sem perceber o quanto estava comprometida sua saúde. Nem mesmo seus casamentos, primeiro com Alda Garrido e posteriormente com Helene Moukhine em 1942, ou o nascimento de seu filho, Custódio Antônio Georges Moukhine de Mesquita Pinheiro, impediam-no de chegar ao amanhecer. Sua rotina só foi alterada quando, acometido por uma hepatite, passou mal e foi obrigado a ficar em repouso. Chegou a escrever músicas nos espaços em branco de um jornal, pois não lhe davam papel para escrever, temendo que se esgotasse compondo. Suas duas últimas melodias, A dor da saudade e Adeus, escritas no jornal, foram perdidas. Assim sendo, podemos considerar que a última composição de Custódio foi feita para uma revista de Freire Júnior e o título, por uma ironia do destino, foi escolhido pelo próprio Custódio: Despedida.
MORTE
Em 1945, foi nomeado pelo próprio Freire Júnior para ser Conselheiro da SBAT, seu grande sonho, que não chegou a se realizar, pois Custódio faleceu seis dias antes de assumir o novo cargo. No dia 13 de março de 1945, aos 34 anos, Custódio se despediu da vida. "Causa mortis" : insuficiência hepática. O discurso de posse do novo cargo, escrito pelo compositor alguns dias antes de sua morte, foi lido à beira do túmulo durante seu enterro, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Lamentando a morte de Custódio, Bastos Tigre, poeta e autor teatral, escreveu: "O destino foi mau e estúpido, Custódio merecia viver mais, o tempo que lhe desse para espalhar pela cidade, largamente, prodigiosamente, os tesouros de harmonias de que tinha a alma repleta".
Fonte:http://www.letras.com.br/#!biografia/custodio-mesquita
Formatação: Helio Rubiales
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